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Jerusalem: entre a diversidade e os conflitos

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“Existe uma diferença, na vida de qualquer analista de política internacional, entre olhar no mapa ou ler um livro a respeito de um assunto, e de fato presenciar um fato político. Se você, aluno de Relações Internacionais me permitir te dar um conselho, este seria: leia bastante e saia da sala de aula.”

 

POR NINA AVIGAYIL LOBATO*

 

Há um mês tive uma oportunidade incrível: retornar à Jerusalém. O texto, abaixo, é uma coleção dos melhores momentos dessa viagem e de tudo o que eu aprendi com ela. Prepara-se para muitas fotos e muitas curiosidades sobre a vida das pessoas em um país marcado pela diversidade e pelos conflitos.

Não pensava em voltar tão cedo para Jerusalém. Na verdade, apenas recentemente consegui absorver tudo o que vivi na primeira vez que estive em Israel. Contudo, eu tive a oportunidade de representar a organização educacional, StandWithUs Brasil, numa viagem chamada de Hassefa Ba’aretz. Nesta viagem, lideranças da comunidade Judaica paulistana foram levadas para o Estado de Israel para dialogar e ver palestras de diversas lideranças da sociedade civil de Israel.

O principal objetivo da viagem é permitir que membros da comunidade Judaica do Estado de São Paulo possam aprofundar os seus conhecimentos sobre os desafios da sociedade israelense contemporânea. Para mim, foi uma experiência incrível poder retornar à uma cidade cujos valores e ideias estão comigo até hoje.

Depois de uma viagem extremamente cansativa, a majestade de Jerusalém me impressionou hoje tanto quanto na primeira vez que nos conhecemos. A luz do pôr do sol fazendo os muros da cidade se velha se tornarem paredes de ouro, as mulheres religiosas rezando na parada de ônibus, jovens progressistas da Europa, Ásia, e do Norte da América discutindo no lobby do Abraham Hostels, homens ultra-ortodoxos caminhando em direção à Yeshiva, em suma, o caleidoscópio composto de pessoas de diversas partes do mundo, carregando as suas diferenças, para essa cidade que está presente na imaginação e no coração de tantos. Esses são pequenos detalhes da paisagem de Jerusalém que são tão atordoantes quanto calorosos.

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PARTE I. Imagens das ruas de Jerusalém (anexadas ao e-mail).

 

Um dos lugares que mais me fascinam, em Jerusalém, é a Abadia da Dormição, no Monte Sião, Jerusalém, Israel.

 

Esta abadia foi construída para lembrar aos peregrinos cristãos da ascensão de Maria, mães de Jesus, aos céus, ou seja, que a vida sobre a terra é momentânea. Simbolicamente, dentro desta igreja, está o corpo de Maria, dormindo. Eu nunca entrei nesta Igreja, pois eu sou sigo uma opinião rabínica (Maimônides) que determina que eu não posso entrar numa Igreja Católica, contudo, alguns amigos meus entraram na Igreja e relataram que ela é de uma beleza ímpar. Próximo à essa abadia, você pode ver a tumba do Rei David e o Cenáculo. Este último é o local onde os cristãos acreditam que Jesus fez a sua última ceia. Hoje, está abadia funciona como uma igreja beneditina (Ordem de São Bento) e recebe visitantes do mundo inteiro.

Na estrada, abaixo do prédio da Abadia na foto, você pode observar soldados israelenses realizando um exercício militar. A presença do Estado de Israel, cuja sobrevivência de sustenta nos ombros desses soldados, torna possível a liberdade de crenças na Jerusalém contemporânea.

 

PARTE II. Abadia da Dormição, no Monte Sião, Jerusalém, Israel.

 

Durante a viagem, eu tive a oportunidade de conhecer o Ministério das Relações Exteriores de Israel. Como uma estudiosa de Relações Internacionais, é sempre uma honra conhecer pessoas da mesma área em outros países.

O vice-diretor da chancelaria, Oren Bar-El, conversou comigo e com os representantes de outras instituições sobre a política externa brasileira e como Israel observa as ações no Brasil no exterior. Enquanto aluna de graduação de Relações Internacionais, eu odiava as aulas sobre a história da política externa brasileira e como uma fã de high politics, eu sempre tive mais interesse pelo comportamento das superpotências do que pelo comportamento do Brasil no sistema internacional.

 No entanto, o representante do Ministério das Relações Exteriores de Israel deu uma verdadeira aula sobre a importância do soft power do Brasil, sobre a relevância do Brasil na geopolítica da América Latina, sobre as possibilidades de cooperações trilaterais e estratégicas entre os dois países, e as relações diplomáticas entre Israel e Brasil durante a administração do Bolsonaro, em especial, sobre a última visita do presidente do Brasil à Jerusalém. Eu adorei a palestra em questão, pois foi interessante observar como diplomatas de outros países olham para o Brasil.

 

PARTE III. Ministério das Relações Exteriores de Israel.

 

A visita ao parlamento do Estado de Israel, também chamado de Knesset, foi o momento que eu mais gostei da viagem. Eu estava no coração da política do Estado de Israel, dentro de um dos símbolos da autodeterminação do povo Judeu, e um símbolo da vibrante democracia israelense!

Lá existem um total de 120 parlamentares, entre eles; mulheres, árabes, judeus religiosos, Judeus seculares, conservadores e social-democratas. A emoção e diversidade visível nos funcionários, membros do parlamento, e visitantes é fascinante.

Destaco duas coisas da minha visita: a primeira; em uma das fotos você pode ver um TV com os rostos de cada parlamentar, alguns estão com os rostos coloridos e outros não, o que permite que qualquer cidadão veja quando cada parlamentar vai trabalhar ou não, a segunda coisa que merece destaque; é a prática de visita das escolas de levarem crianças para visitar o parlamento.

Além de conhecer o Knesset (parlamento de Israel), nós também tivemos a oportunidade de conversar com alguns parlamentares. Desses, eu destaco: Ahmad Tibi (Hadash-Taal) e Pnina Tamano-Shata (Kahol-Lavan).

O primeiro é um árabe-israelense (muçulmano) que faz parte de um partido árabe, antissionistas, e crítico do Benjamin Netanyahu. Segundo Yar Lapid, além de tudo isso, ele também fez um dos mais belos discursos, da história do parlamento israelense, em homenagem às vítimas do Holocausto. Em suma, Ahmad Tibi é controverso. Por que eu gostei de ouvir ele se eu não gosto das ideias que ele defende? Porque faz parte da democracia liberal ouvir o dissenso.

 

Porque, no mapa do Oriente Médio, apenas em Israel, é possível que alguém que discorde da autoridade executiva máxima do país, crie um partido que se opõe à ideologia da maioria da população, tudo isso enquanto faz parte de uma minoria religiosa, sem que essa pessoa tenha a sua liberdade de expressão e a sua integridade física ameaçadas.

Além disso, foi muito engraçado quando o Ahmad Tibi (Hadash-Taal) entrou na sala de reunião, no meio da conversa com um parlamentar de direita (oposição ao Hadash-Taal), sentou na mesa ao lado desse parlamentar e disse “eu estou muito ocupado hoje, mas eu não queria perder a oportunidade de conversar com vocês e dizer as minhas opiniões políticas são: eu discordo de absolutamente tudo que o parlamentar ao meu lado disse para vocês”. Tanto ele quanto seu oponente político riram.

A outra parlamentar que merece destaque é a Pnina Tamano-Shata (Kahol-Lavan). Ela nasceu na Etiópia e, ainda criança, encontrou refúgio no Estado de Israel. Apesar de todas as suas dificuldades como mulher, negra, e refugiada, ela chegou até o Knesset!! Ela é um símbolo de sucesso para todos aqueles que se consideram outsiders na sociedade.

Quando terminamos a nossa visita, encontramos um grupo de crianças que perguntaram qual era o nosso país de origem. Um dos membros do grupo respondeu: “Brasil”. Então, a criança comentou: “e vocês vieram do Brasil para ver o Knesset?” Como quem diz, “vocês são loucos, tem praia em Tel Aviv”.

Era um dia quente do lado de fora do prédio e, também, do lado de dentro, pois havia um enorme debate sobre a criação de uma nova coalizão, sobre a Lei de Imunidade que alguns membros do Likud queriam aprovar, e sobre um legislação que visa limitar os poderes da suprema corte.

 

PARTE IV. Parlamentares e o Knesset.

 

Também tive a oportunidade de conversar com representantes do Grupo de Salvamento e Resgate do Homefront Command de Israel. Você provavelmente conhece eles, pois eles participaram das operações após o desastre de Brumadinho.

 

Esta unidade é parte de um departamento das Forças de Defesa de Israel que não apenas atua em missões de resgate dentro do Estado de Israel, mas também em países ao redor do mundo. Quase todos os membros dessa unidade são reservistas que deixam as suas vidas de lado, entram num avião, e viajam para outros países com o objetivo de salvar pessoas que nem sequer falam a mesma língua que eles.

 

Segundo os soldados e comandantes relataram, no encontro do qual participei, eles sentem um grande choque emocional depois de participarem de operações de resgate e salvamento em desastres. No final do dia, após uma dessas operações, eles se agarram à pequenas coisas, tais como um banho ou uma ligação com a família, para conseguirem se manter fortes para encarar o dia seguinte. Uma das soldadas que estavam presentes tinha apenas 22 anos.

 

Em Brumadinho, foi a primeira vez que os 130 soldados israelenses enviados ao Brasil lidaram com um deslizamento de lamas daquela magnitude. Ainda sim, eles utilizaram todos os equipamentos que trouxeram, relataram terem tido boas relações com as equipes de militares e bombeiros brasileiros, e contribuíram com dados de inteligência e mapeamento da área. Como assim inteligência e mapeamento? Desastres tais como deslizamento de lamas e desmoronamento de prédios, exigem que os envolvidos no resgate consigam imagens de satélite para determinar em que regiões existiriam mais chances de se encontrar corpos ou sobreviventes, conversem com a população local para descobrir onde as vítimas poderiam estar no momento do deslizamento ou para onde elas poderiam correr, bem como utilizem rastreamento de telefones para restringir os locais de busca. O resultado direto da ajuda israelense à Brumadinho foi: 35 corpos que estavam desaparecidos foram resgatados e 26 pessoas, que os familiares e times de resgate achavam estava na cidade quando o deslizamento aconteceu, foram encontradas com vida fora da cidade.

Israel oferece ajuda, em casos de tragédias, para qualquer país do mundo (isso inclui países como Irã). Até o momento, esta unidade já realizou operações em 21 países estrangeiros. Segundo um dos comandantes da unidade, “é uma honra poder ajudar o Brasil, mas eu espero encontrar vocês apenas em bons momentos”.

 

PARTE V. Por segurança dos soldados, eu optei por não publicar fotos com eles. Este são os símbolos da unidade no uniforme de uma das soldadas presentes.

 

Uma das cidades que eu visitei foi Netivot. Esta é uma cidade pobre que fica entre Beersheba e a Faixa de Gaza (sul de Israel). A maioria dos habitantes dessa cidade são Judeus marroquinos, Judeus imigrantes russos e Judeus imigrantes etíopes. O fato desta cidade abrigar o túmulo do Baba Sali, famoso cabalista nascido no Marrocos, faz com que ela seja muito conhecida entre Judeus religiosos do mundo inteiro. Outro fato curioso a respeito dessa cidade: ela fica numa região que sofre a maior parte dos ataques aéreos oriundos de Gaza (região controlada pelo grupo terrorista Hamas).

Durante a nossa visita, nós fomos recebidos por duas mulheres extremamente corajosas: Shmulit (sefardita marroquina) e Klara (origem russa). Ambas são mulheres que tiveram poucas oportunidades na vida, mas que juntas trabalham na organização sem fins lucrativos: Women Cook.

“Women Cook” é um projeto apoiado pelo Keren Hayesod (Fundo Comunitário). Este projeto tem como objetivo promover o fortalecimento de mulheres que vivem na periferia. Como? Através da criação de um espaço no qual essas mulheres podem criar laços de amizade e vender comidas típicas de suas comunidades.

Além da comida ser deliciosa, foi muito interessante ouvir o que essas mulheres tinham a dizer sobre como a independência financeira impactou a relação com os seus maridos e familiares, sobre como é difícil criar filhos próximos à fronteira de Gaza, e sobre o orgulho que elas tinham das suas respectivas culturas. Segundo Shmulit, que aparece na primeira foto ao meu lado, houve períodos nos quais ela teve que parar de trabalhar para cuidar da saúde dos filhos. Estes últimos haviam desenvolvido problemas emocionais e psicológicos devido aos constantes ataques aéreos do grupo terrorista Hamas.

 

PARTE VI. Mulheres do Projeto “Women Cook”.

 

E, já que estávamos tão pertinho da Faixa de Gaza, por que não visitar uma das fronteiras mais perigosas do mundo? Não vou negar, foi bastante tenso.

Nas fotos, abaixo, você pode ver um campo de girassóis e, ao fundo, uma cerca e prédios. Os campos produtivos são território israelense, a cerca é a fronteira, e os prédios no horizonte são a Faixa de Gaza. Em períodos de conflito, este trajeto que o ônibus percorreu não seria viável, pois o veículo poderia ser alvo de morteiros, tiros, drones incendiários ou mísseis. Por que um campo de girassóis? Do lado israelense, cada pedaço da terra é utilizado para produção industrial.

Nas fotos, abaixo, você também poderá observar campos queimados e um local destinado à produção de cimentos. Durante o período da manhã, apenas algumas horas antes da nossa visita ao local, drones incendiários do Hamas haviam destruído o campo em questão. O incêndio demorou horas para ser extinto.

O Estado de Israel, com o objetivo de proteger os seus cidadãos, cria muros de concreto debaixo da terra (daí a presença de um local destinado à produção de cimentos). Isso evita a infiltração de terroristas oriundos da Faixa de Gaza, através de túneis subterrâneos, para dentro do território israelense. Na fronteira ao sul do território de Israel, existem cidades e diversas comunidade destinadas à agricultura. Todas elas estão sob a constante ameaça do Hamas.

Com o objetivo de tornar este passeio mais surreal, nós também visitamos uma base militar israelense próxima à fronteira. Não era permitido tirar fotos dessa base militar. Por quê? Porque quando tiramos fotos, a localização geográfica do local onde você estava quando a foto foi tirada, fica registrada no seu celular e o Hamas constantemente busca a localização de máquinas Iron Dome. Este último é um sistema de defesa aéreo móvel que rastreia a trajetória de objetos e veículos aéreos. Ele é utilizado para rastrear foguetes de curta distância laçados da Faixa de Gaza para o território israelense. Após o rastreio, é avaliado se o objeto a ser destruído vai atingir cidades, se sim, o Iron Dome intercepta o mesmo com um dos seus foguetes.

Essa tecnologia salvou e vai salvar a vida de inúmeras mulheres e crianças israelenses. Durante a minha última visita à Israel, em 2014, essa tecnologia salvou a minha vida várias vezes. Sem o Iron Dome, as milhares de israelenses que vivem próximos à Gaza estariam mortos ou desabrigados. Um dos soldados que estavam servido lá era uma jovem paulistana, de 20 anos de idade, que vinha de uma comunidade Judaica Masorti.

Um dos relatos que ela fez - e que mais me impressionou - foi sobre a relação entre esses soldados e as crianças que moram numa fazenda coletiva (Kibbutz) próxima de Gaza. Essas crianças vivem sob o constante medo dos ataques do Hamas e veem o Iron Dome com um reconfortante símbolo de proteção. Contudo, algumas vezes, é necessário recarregar a munição desta máquina. Para isso, é necessário descer a plataforma dele. Isso faz com que as crianças não consigam vê-lo de longe e fiquem em pânico, pois pensam que estão sem proteção. Tente imaginar isso? Você, com 20 anos, servindo numa base militar, sob um calor impiedoso, para proteger crianças que estariam mortas sem o seu sacrifício.

 

PARTE VII. Fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza.

 

Dois exemplos de lideranças civis israelenses me impressionaram nessa viagem: o General Doron Almog e o Mohammad Darwashe.

O General Doron Almog recebeu, em 2016, o prêmio Israel Prize for Lifetime Achievement and Contributions to Society and State. Ele mereceu. Além de ser um soldado condecorado que participou do resgate de Entebbe (1976), da Operação Moshe (1984), e de operações de proteção da fronteira sul de Israel com Gaza (2000-2003), Almog cooperou pela fundação da Aleh.

Aleh é um conjunto de centros de tratamento médico e abrigos para reabilitação de crianças com severas deficiências físicas e cognitivas. As famílias dessas crianças também são bem-vindas no abrigo. O objetivo do Aleh não apenas fornecer tratamento médico de qualidade, mas criar um espaço de acolhimento e dignidade para essas crianças. Aqui, é possível mostrar para as famílias dos pacientes e para a sociedade como um todo, que é errado ter preconceito contra deficientes.

O que inspirou Doron Almog? Além da sua experiência militar, que o levou a crença de que nenhum homem deve ser “deixado para trás”, ele teve um filho chamado Eran, que tinha uma forma severa de autismo e atraso no desenvolvimento mental. Segundo Almog, apesar de Eran nunca ter dito uma palavra, seu filho foi o seu maior professor.

Hoje, mais de 700 crianças e jovens adultos fazem reabilitação no Aleh. Durante a minha visita aos prédios dessa instituição, eu encontrei árabes-muçulmanos religiosos, Judeus ultra-ortodoxos, soldados das Forças de Defesa de Israel, Judeus seculares... era um microcosmo da sociedade israelense. Entre os tratamentos oferecidos, destaco: hidroterapia, programa de comunicação alternativa, terapia respiratória, e terapia através de contato com animais.

O Aleh custa U$30 milhões ao ano e possui especialistas de saúde do Tel HaShomer Hospital, Shaare Zedek Medical Center, Hadassah Hospital etc. O governo israelense cobre 85% do custo do Aleh e o restante vem de doadores privados. Se você quiser doar, basta acessar www.aleh.org/

Mohammad Darawshe é um especialista na relação entre Judeus e Árabes Israelenses, co-fundador do The Abraham Fund Initiatives, e membro do Shalom Hartman Institute. Nós visitamos um dos seus projetos; o Guivat Haviva Educational Center. Este último é um centro educacional que busca construir uma sociedade compartilhada entre Árabes israelenses e Judeus israelenses. Ambos os grupos são cidadãos de Israel, dotados de igualdade de direitos políticos, de acesso à educação, e cultura, e estão presentes em diversos setores da sociedade. Ao mesmo tempo, os membros desses dois grupos parecem viver em mundos paralelos.

Darawshe tenta criar pontes entre esses mundos. Como? Ele promove um diálogo e um espaço em comum entre árabes e Judeus. Este espaço é baseado na responsabilidade mútua, igualdade cívica, e na construção de uma visão em comum para o futuro. Mohammed Darawshe acredita que ações com as que ele realiza no Guivat Haviva contribuirão para o fortalecimento da democracia israelense.

Guivat Haviva atua em três áreas: parceria com autoridades públicas regionais e municipais, programas educacionais, engajamento com o grande público para promover debates sobre Shared Society, promoção do conhecimento e compreensão da produção de arte e cultura Judaica e Árabe, e incentivo à educação da população árabe-israelense, em especial, das mulheres árabes-israelenses.

Durante a conversa, Mohammed Darawshe não escondeu suas opiniões moderadas e marcadas por um raro bom senso típico de alguém que dialoga - e compreende - aqueles com os quais ele discorda. Darawshe acredita que foi um erro os árabes não aceitarem o Partion Plan (ONU, 1947) e que é extremamente relevante, para a saúde da democracia israelense, criar uma classe média árabe-israelense forte.

 

PARTE VIII. Doron Almog e o Projeto Aleh.

PARTE IX. Darawshe e Guivat Haviva.

A comunidade árabe-israelense, marcada por uma forte diversidade, compartilha, com o turista que visita Israel, relatos tristes e relatos belíssimos. Abu Gosh é um desses relatos. Esta é uma vila árabe-israelense conhecida por abrigar quinze incríveis restaurante de hummus e o festival Abu Gosh Music Festival. Talvez ela seja menos conhecida pela sua história de guerra e coragem.

Em 1947-1948, quando a estrada que conectava as demais cidades Judaicas à Jerusalém foi bloqueada, durante a Guerra de Independência de Israel, conseguir passagens entre as colinas e a cidade de Jerusalém era crucial para os soldados israelenses. Através dessas passagens nas colinas, seria possível levar medicamentos e alimentos aos Judeus que estavam cercados em Jerusalém.

Dos 36 vilarejos árabes que cercavam Jerusalém, apenas a população árabe-muçulmana de Abu Gosh permaneceu neutra no conflito e, em vários casos, cooperou e protegeu os soldados israelenses (Palmach) que precisavam passar, pela região, para chegar à Jerusalém.

Apesar do fato de que os líderes árabes de Abu Gosh, que receberam muito bem Chaim Weizmann, em 1920, nunca terem imaginado que seus filhos seriam cidadãos israelenses, as boas relações estabelecidas entre Judeus e Árabes, pelos anciões de Abu Gosh, faz dessa vila um símbolo de coexistência até hoje. Quando questionado sobre o tema, Salim Jaber, prefeito de Abu Gosh, respondeu: “nós damos boas-vindas a qualquer pessoa, independente da raça ou religião dela.

 

PARTE X. Abu Gosh.

 

Concluo este relato com a melhor aula de geopolítica que eu já tive na minha vida: um tour pela Green Line com o analista de inteligência e geoestratégia do Oriente Médio, Avi Melamed. Este último é autor do livro “Inside the Middle East”, trabalha no Eisenhower Institute, e é analista de inteligência estratégica especializado no mundo árabe e muçulmano (e como as mudanças desses mundos impactam o Estado de Israel). Além disso, ele também é fluente em árabe e inglês. Durante a sua carreira nas Forças de Defesa de Israel, ele atuou como Analista de Inteligência e Consultor na área de contraterrorismo. Hoje, ele educa diplomatas, turistas, e jornalistas sobre a realidade do Oriente Médio.

Ele nos recebeu numa cidade, que fica além da Linha Verde (Green Line), chamada de Tzufim. Do ponto mais alto dessa cidade, era possível ver os resquícios da Linha Verde, as cidades que ficam dentro do mainland de Israel, e a cidade árabe Qualqilya. Antes de fazer qualquer análise sobre a Cisjordânia e o futuro do conflito israelense-palestino, você precisa levar quatro elementos em consideração: (1) a comunidade internacional não reconhecia soberania da Jordânia sobre a Cisjordânia (após 1948); (2) a região da Cisjordânia é montanhosa e é possível, facilmente, atingir, por exemplo, o parque industrial e cidades israelenses a partir de uma base militar nessas montanhas; (3) Israel até hoje nunca estendeu a sua soberania sobre a região da Cisjordânia; e (4) esta região é dividida em áreas A (controle político-civil e controle de segurança da Autoridade Palestina), B (controle político-civil árabe e controle de segurança israelense), e C (controle político-civil e controle de segurança COGAT).

Existe uma diferença, na vida de qualquer analista de política internacional, entre olhar no mapa ou ler um livro a respeito de um assunto, e de fato presenciar um fato político. Se você, aluno de Relações Internacionais me permitir te dar um conselho, este seria: leia bastante e saia da sala de aula!

 

 

Artigo orginalmente publicado na Gazeta Vargas, publicação dos alunos e prefossores da Fundação Getúlio Vargas.

*Nina Lobato é analista internacional e coordenadora de relações institucionais da StandWithUs Brasil

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