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BRASIL

A Morte de Qassem Suleimani

por Gabriel Paciornik 

Analista político do site Conexão Israel, especial para SWU Brasil

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Quando a notícia da morte de Qassem Suleimani chegou até a mim na sexta-feira de manhã (3 de janeiro), ainda era alta madrugada no Brasil. Fucei a internet para tentar entender os detalhes. Não havia controvérsia. EUA já tinham assumido o ataque e Suleimani estava confirmado morto.

 

Alguém me perguntou pelo Twitter o que dizia a televisão israelense. Jornal da manhã, notícias lacônicas e exatas. Quem morreu, onde, como e o que deve acontecer a curto prazo. Um bloco de nem dois minutos.

Cheguei a ler algum material de alguns analistas e até me deparei com fotos impublicáveis do acontecido. A partir daí, a vida seguiu adiante num começo de fim de semana em Israel cheio de chuva.

 

Foi por isso que fiquei genuinamente assustado quando o Brasil aos poucos foi acordando e comecei a ver as postagens no Facebook. Nada menos do que a 3a Guerra Mundial estava vindo. Exército Brasileiro estaria chamando seus valorosos reservistas para que desafiem os seus peitos à própria morte. Seria o fim do Irã. Do Irã não, do Oriente Médio inteiro. Talvez de toda a civilização.

Por uma questão de mera e mórbida curiosidade (afinal, estou no Oriente Médio), resolvi ligar a televisão, nem que fosse para ter uma medida se o mundo estava por acabar, ou não.

 

A resposta era: sim. O mundo estava para acabar. Mas era por um motivo diferente. Chuva. Uma massa de chuva que, depois ficaríamos sabendo,  traria em alguns lugares 200% da quantidade de chuva prevista para o mês inteiro, mataria 4 pessoas e deixaria todo o sul de Tel-Aviv imundado.

 

Mas, e o Souleimani? E o Irã? E a guerra?

As notícias sobre esse assunto não tinham mudado desde de manhã. Não havia nada para noticiar. Analistas estavam no estúdio, de prontidão, mas havia pouca coisa para dizer.

 

Como se explica essa discrepância? O Brasil, sem qualquer relevância geopolítica e fisicamente tão longe do Irã com essa reação quase histérica e em Israel até os analistas mais afobados tão contidos e sem ter o que dizer?

 

Quanto o lado israelense da equação, a resposta é simples e levemente perturbadora: estamos acostumados.

Todos os canais de notícia, como no Brasil, têm analistas econômicos, políticos e policiais. Ao contrário do Brasil, todos os canais de notícia têm um analista em assuntos militares e outro em assuntos árabes e do Oriente Médio.  São profissionais muito ocupados. Nos noticiários, não se fala apenas na oposição, coalizão, eleições, economia, mazelas e notícias internacionais. Fala-se também do que acontece com os vizinhos de forma bastante íntima. O que se passa na política interna dos palestinos? E na Síria? Quem é quem na Arábia Saudita, ou no Irã.

 

É por isso que o nome do Qassem Souleimani não era novo no léxico noticioso de Israel. E Souleimani apareceu bastante nos últimos dois anos, quando as ações do exército israelense na Síria se tornaram mais públicas. Os alvos eram, invariavelmente, homens de Souleimani. Sua posição nas Guardas Revolucionárias do Irã faziam dele um personagem bem conhecido por aqui: era o líder da brigada Quds, a unidade responsável por exportar a revolução iraniana para o mundo. Israel foi alvo estratégico desde o princípio da sua carreira.

 

Souleimani quase foi eliminado pelo menos duas vezes antes por Israel. Em ambas, os EUA deram sinal vermelho e a ação não se concretizou. Souleimani tentou de todas as formas fortalecer a presença da Brigada Quds em território sírio e enviar equipamento sofisticado para o Hizbollah. Cada vez que havia um movimento mais ousado em direção ao Líbano, ou quando uma nova base de ataque era eliminada na Síria, o nome de Souleimani era lembrado.

 

Com tanta gente especializada nas bancadas dos noticiários, e com tanta ação real e relevante acontecendo pela região o tempo todo, a imprensa e o público sabem ler as entrelinhas de um evento relevante pelo Oriente Médio. E o resumo da ópera neste caso era: Morreu o General Souleimani, uma das figuras mais importante do comando da Guarda Revolucionária. O General Kohavi, chefe das forças armadas de Israel diz que há uma tensão nas fronteiras norte (Síria e Líbano) mas não se vê e não se espera nenhuma ação. Mas diz que o exército está preparado. Não há chamada dos reservistas. Nem há nada previsto.

A partir daí, analistas passam a narrar os eventos como realmente são: um entrevero entre os EUA e o governo do Irã. E só.

 

Ficou claro muito rápido, para todo mundo, que não aconteceria muito depois disso, e que se acontecesse, não teríamos nada a ver com a ação. E, se tivéssemos, estaríamos preparados.

 

Houve também um outro motivo curioso para a aparente apatia. A tempestade que se aproximava. Ao contrário do Brasil, Israel não está preparada para chuvas desta magnitude. E por isso vira notícia muito rápido. Na quinta feira de noite morreu um casal preso dentro de um elevador no subsolo de um edifício que foi imundado, no sul de Tel-Aviv. A tragédia tomou a maior parte da energia reservada para comoção geral. Restou pouco ímpeto para se emocionar com mais que isso.

 

Gabriel Paciornik 

Analista político do site Conexão Israel

 

As opiniões dos autores não necessariamente coincidem com as da instituição.

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